domingo, 13 de novembro de 2011

Sorria! E o facebook

Esse foi um fim de semana que marcou a minha vida, e por isso eu preciso escrever alguma coisa para lembrar desse dia. E como a idéia mais indicada, que é um diário, não está funcionando muito bem, vou escrever aqui. Afinal de contas é por isso que eu criei essa página.

Minha irmã faz psicologia, e na faculdade dela está sendo montado um grupo chamado "Sorria!". A idéia é visitar hospitais, asilos e orfanatos vestidos de palhaços com brincadeiras, doces, comidas e etc. Sabe como é, né? Não é uma idéia tão nova, e quase todo mundo já ouviu falar de algum grupo assim. Minha irmã me ligou praticamente me obrigando a ir com ela pra tocar violão. Eu não gostei da idéia de ir pra tocar violão, uma vez que meu gosto musical é um tanto peculiar e a esmagadora maioria de músicas que eu sei tocar aquelas pessoas nunca irão ouvir uma única vez na vida. Não havia tempo também para eu aprender qualquer música nova e o mais importante de tudo: não havia um violão! hahaha. Porém, eu amei a idéia de ir fazer essas visitas. E fui.

No sábado, fomos para um asilo. Levamos algumas comidas, nos pintamos de palhaço e fomos lá conversar e tentar animar um pouco os velhinhos. O que marcou foi a rotina deles. Fiquei imaginando como deve ser massante eles terem que fazer as mesmas coisas todos os dias até o resto da vida deles! De certa forma, a vida deles acabou! Sem mais realizações, sem mais novidades, sem mais. Imagina, você acorda sabendo que horas vai comer, provavelmente o que você vai comer, o que você vai fazer no dia e o que você não vai fazer no dia. E o que resta de novo é assistir TV e ver o movimento dos carros nas ruas, o que talvez pode não existir no futuro para eles, já que estão falando de fazer um muro alto em volta do asilo todo. Algo que eu imaginava antes de entrar e que se concretizou lá dentro é: que muitos deles só queriam conversar, contar a história da vida deles pra alguém. Sabe quando você só quer falar e saber que tem alguém ouvindo? Acho que isso que eles sentem falta mesmo. Também, de ver que alguém se importa com eles, mesmo que por alguns minutos.

No domingo, fomos para uma espécie de orfanato. A maioria das crianças tinham pais, mas, ou os pais não queriam criar esses filhos, ou eram drogados, abusavam dessas crianças e coisas do tipo. O impacto foi grande logo de cara. As crianças demonstram muito mais que precisam de atenção do que os velhinhos. Elas já chegam pulando em você e querendo brincar. A sensação e a imagem dos primeiros momentos da gente lá dentro irá marcar a minha vida toda. Senti que parecíamos anjos vestidos de palhaços. O sorriso e a alegria das crianças com a nossa presença é algo que me enche a alma até agora, e isso foi há quase 12 horas atrás. O brilho que aquelas crianças irradiavam com a nossa presença me tocou profundamente, teve um momento que eu tive que me segurar pra não chorar. Ainda bem que consegui, não sei o que eu iria dizer se uma delas me falasse: "Tio, tá chorando por quê?". Esse choro seria um choro de alegria. Nas primeiras horas, na verdade em todo momento que eu estava lá, eu só pensava em coisas que podia fazer lá dentro pra ajudar elas e pra fazer o dia delas um pouquinho mais feliz.

Agora, quando eu penso em tudo que vivi lá, o choro não é mais tão alegre. Tanto as crianças, quanto os velhinhos, não possuem a mesma identidade que pessoas que tem a vida fora dessas instituições possuem. Elas levantam a hora que tem levantar, comem a hora que tem que comer, fazem o que é oferecido lá dentro na hora estabelecida, dormem na hora que tem que dormir, etc. Os idosos já tiveram a vida deles e não terão tanta oportunidade enquanto as crianças. Estas ainda tem toda uma vida pela frente com milhões de oportunidades, que serão mudadas, e em sua grande maioria prejudicadas, por viverem em uma instituição assim nesse período. Antes de começar a escrever aqui eu fiquei pensando: "Elas talvez nunca terão um facebook". É lógico que o facebook em si não tem nada a ver, e não ter uma conta no facebook não é motivo de tristeza. O fato é que elas não terão uma personalidade como outras crianças, elas não terão a oportunidade de vida que a maioria das pessoas tem, e é isso que me deixa triste. Tudo bem, elas não morrerão de fome como muitas crianças em certos lugares do mundo morrem. Mas essas crianças do "Cantinho Feliz" não recebem o carinho que uma mãe dá, elas não recebem o amor que é necessário para uma criança receber! Eu senti isso, a Thaís sempre vinha e abraçava a gente. E era o tipo de abraço de 'dengo' que um filho dá em uma mãe, a diferença é que ela não tem uma mãe para fazer isso, e dava esse abraço num estranho que ela, provavelmente, só irá ver uma vez na vida.

As crianças me cansaram fisicamente, cheguei em casa e tirei um cochilo. Quando acordei, a primeira coisa que veio em minha mente foi: o sorriso de cada uma delas. Infelizmente, esses sorrisos se converteram em algumas lágrimas. Aquelas crianças tão lindas (sério), estão passando por coisas que elas não deveriam passar. Cada uma delas deveria ser amada e muito bem tratada por um casal de pais atenciosos, preocupados e carinhosos! Elas merecem!



Tiago, irmão de Cristo. 1:27 "A religião pura e imaculada para com Deus o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo."